segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Quem és Tu?

Quem és tu, ó pobre homem? Vives perambulando pelas ruas da região central de uma cidade grande. Sem nome e sem identidade. Tu que passas, muitas vezes, despercebido pelos olhos distraídos, apressados e desinteressados dos milhares de indivíduos que próximo de ti transitam. Miserável és tu, ó pobre homem, quase invisível. Apenas um no meio da multidão.

Quem és tu, ó pobre homem? Tu que não consegues enxergar um palmo à frente do nariz, apenas a escuridão. Andas sozinho, perdido, somente em companhia do teu acordeão. Tu que peregrinas de ponto em ponto, de esquina em esquina, buscando um pouco de compaixão.

Quem és tu, ó pobre homem? Que apesar de não enxergares as belezas das cores do mundo exterior, enxergas com a alma lindas notas musicais que ressoam no ar. Tu que te sentas em algum lugar da turbulenta região central com o instrumento no colo e um recipiente para as esmolas no chão. Tu que tocas músicas que chamam a atenção das pessoas apressadas e ocupadas. Ó, pobre homem invisível, tu não és mais tão invisível assim.

Quem és tu, ó pobre homem? Tu que após mais uma jornada consegues despertar, por meio da música, a admiração, o espanto ou pelo menos a curiosidade das pessoas que por ali passam. E, depois de mais uma pequena demonstração, esperas que em tua pequena vasilha no chão ressoem o som de moedas caindo dos indivíduos que ali estão.

Quem és tu, ó pobre homem? Tu que recolhes a pequena gratificação das pessoas, colocas o instrumento nas costas e te vais. Não se sabe pra onde e nem como. Talvez, irás peregrinar por aí, perdido em outro canto da cidade. Talvez voltes amanhã, na semana que vem ou em outro dia qualquer.


Fernanda Oliveira